O presidente Jair Bolsonaro confirmou, na manhã desta quarta-feira, 21, que fará mudanças em seu ministério até a próxima segunda-feira, 26. O movimento faz parte da estratégia do governo de reforçar o apoio dos parlamentares do Centrão, que hoje comandam o Congresso Nacional.
Em entrevista nesta manhã à rádio Jovem Pan Itapetininga, o chefe do Executivo afirmou que os novos ministros foram escolhidos “com critério técnico”, sem dar mais detalhes. “É para a gente continuar administrando o Brasil.”
Conforme antecipou o Estadão, Bolsonaro vinha sendo pressionado pelo Centrão a mexer na articulação política do governo e a substituir os ministros Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral). A cadeira de Ramos deverá ser ocupada pelo senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas.
Aliados do governo avaliam que Bolsonaro precisa contemplar o Senado, principalmente agora, com o presidente acuado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e na expectativa de aprovar as indicações de André Mendonça para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) e a recondução de Augusto Aras como procurador-geral da República.
Ramos seguiria para a cadeira de Onyx na Secretaria-Geral. Para não abrir mão de Onyx, porém, Bolsonaro deve recriar o Ministério do Trabalho. O presidente deve editar uma Medida Provisória já no início da próxima para efetuar esta e as demais trocas.
“Estamos trabalhando, inclusive, uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira, para ser mais preciso, para a gente continuar aqui administrando o Brasil”, disse Bolsonaro à rádio.
A pasta do Trabalho é o segundo ministério recriado por Bolsonaro para acomodar a base aliada. Em 2020, o presidente havia recriado o ministério das Comunicações para nomear o deputado Fábio Faria (PSD-RN). Eleito em 2018 com um discurso de enxugamento da máquina pública, Bolsonaro prometeu na campanha uma Esplanada com 15 ministérios. Com a pasta do Trabalho, ele terá 24, nove a mais que o prometido.
O Estadão apurou que, nos grupos de WhatsApp do Progressistas, parlamentares já parabenizam Ciro Nogueira pela possibilidade de assumir o cargo, embora não haja confirmação formal. Efetivada a nomeação de Nogueira, quem assume a vaga no Senado é sua mãe, Eliane Nogueira.
Para o lugar de Onyx, além de Ramos, um nome citado é o do senador Davi Alcolumbre (AP), que também é do DEM.
Além de abrigar a CPI da Covid, o Senado também vai avaliar em agosto, após o recesso parlamentar, a indicação do advogado-geral da União, André Mendonça, para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. Alcolumbre preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde Mendonça será sabatinado, e tem mostrado resistências à indicação dele para a vaga no Supremo. A comissão e posteriormente o plenário da Casa precisam dar aval a Mendonça e também a Augusto Aras, cuja recondução como titular da Procuradoria Geral da República foi publicada no Diário Oficial desta quarta-feira.
Dirigentes do Centrão avaliam que Onyx só trabalha para construir sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022, e não ajuda na articulação política. Além disso, a percepção desses aliados é que a forma como ele atacou o deputado Luis Miranda (DEM-DF) – que acusou o governo de acobertar um esquema de corrupção nas negociações para compra da vacina indiana Covaxin – provocou efeito bumerangue e acabou levando Bolsonaro para o meio da crise.
Onyx tem muitos desafetos no Centrão e não são poucos os que dizem que ele tem exposto o governo a situações vexatórias. Em março, por exemplo, o ministro disse que lockdown não funciona para frear a disseminação da covid-19 porque insetos podem transportar o vírus. Foi desmentido em seguida por especialistas.
O general Ramos, por sua vez, vem sendo apontado por governistas como o ministro que deu informações erradas ao presidente sobre a votação do fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, na semana passada, fazendo com que Bolsonaro acusasse o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), de “atropelar o regimento” na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
O deputado presidia a sessão que sancionou a LDO e o fundo que agora Bolsonaro promete vetar. O presidente o chamou de “insignificante” e atribuiu a ele a aprovação da verba “astronômica” para financiar campanhas eleitorais.
Depois das críticas, Marcelo Ramos – que publicamente mantinha posição neutra em relação ao Palácio do Planalto – se declarou na oposição e agora está analisando os mais de 100 pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Em entrevista ao Estadão/Broadcast Político, o deputado disse que a Câmara precisa delimitar até onde o presidente pode ir. “Se não fizermos isso, Bolsonaro vai avançar e marchar sobre a democracia”, afirmou.
O ESTADO DE S. PAULO