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Copom deve acelerar o aperto monetário para manter a expectativa de inflação

Fábio Alves*

Se o Banco Central vinha num dilema entre elevar a taxa Selic em 0,75 ponto ou 1 ponto porcentual na reunião do Copom da próxima semana, o último índice de preços ao consumidor e as mais recentes projeções de inflação não lhe dão outra alternativa: é necessário acelerar o ritmo da alta de juros.

Na sua última reunião, o Copom abandonou a ideia do ajuste parcial e disse que a normalização da política monetária seria completa, ou seja, levando os juros para o nível neutro, ao redor hoje de 6,50%. Mas o Copom também ressaltou que o seu compromisso era com a meta de inflação para 2022 – o horizonte relevante para a política monetária – e que faria o necessário para entregar essa meta, de 3,50%.

Outra sinalização importante foi de que iria fazer na reunião da próxima semana outro aumento da taxa Selic na mesma magnitude do último encontro, de 0,75 ponto porcentual. Porém, alertou que poderia fazer uma elevação maior, de 1 ponto, dependendo do comportamento das expectativas de inflação.

Essa ameaça do Copom funcionou. Desde a última reunião, as projeções de inflação para este ano seguiram subindo na pesquisa Focus, aumentando 0,74 ponto porcentual, enquanto as estimativas do IPCA para 2022 praticamente ficaram paradas.

Essa situação gerava até recentemente a seguinte dúvida: como as projeções de inflação para 2022 não andaram desde a ameaça da última reunião do Copom, então não seria mais necessário acelerar a alta de juros para 1 ponto?

A divulgação do IPCA-15 de julho, contudo, tornou o cenário mais dramático. Esse índice teve alta de 0,72%, acima do consenso das estimativas de analistas, de avanço de 0,65%. Mas não foi só isso. Não foi boa a análise qualitativa dos componentes do IPCA-15: os núcleos, os preços de serviços e de bens industriais mostraram que o processo de alta de inflação em 2021 está muito mais disseminado do que simplesmente um choque temporário que já deveria estar arrefecendo.

O resultado do IPCA-15 de julho aumentou a percepção no mercado de que, para continuar mantendo as expectativas de inflação de 2022 inalterada – à luz das revisões para cima nas projeções de 2021 –, o Copom será forçado a acelerar o aperto monetário já na reunião da próxima semana.

Isso porque as projeções de inflação de 2021 não param de subir. Na mais recente pesquisa Focus, essa estimativa já está em 6,56%, mas há muitos analistas no mercado com previsão de IPCA acima de 7% neste ano, especialmente se a tarifa 2 da bandeira vermelha, a mais cara da energia elétrica, seguir em vigor até o fim deste ano.

Assim, o problema do BC é como fazer com que a revisão contínua das projeções de inflação de 2021 não contamine as estimativas para 2022, que apontam para um IPCA de 3,80%, um pouco acima da meta?

Além de acelerar o ritmo do aperto monetário na semana que vem, o Copom vai repetir a mensagem de que fará o necessário para entregar a meta de inflação de 2022. Como as decisões de política monetária levam de 12 a 18 meses para surtir efeito, a reunião de julho do Copom permite tempo suficiente para o BC usar agora todos os instrumentos para conseguir o objetivo de trazer a inflação para 3,50% no ano que vem.

Se de fato o IPCA de 2021 superar 7%, como preveem alguns, a inflação será quase o dobro do centro da meta deste ano, de 3,75%, e ainda muito acima do teto, de 5,25%. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de escrever uma carta ao ministro da Economia, Paulo Guedes, justificando o porquê de não ter atingido esse objetivo e explicando quais as decisões que tomou para garantir que a inflação retorne à meta no ano seguinte.

Diante das pressões inflacionárias atuais, o BC terá de atuar intensamente na política monetária para que, no fim do ano, a sua carta ao Ministério da Economia seja crível. Se o Copom elevar os juros em 1 ponto na semana que vem, as apostas para a Selic no fim do ano podem migrar para entre 7,50% e 8,0%. Se isso acontecer, não se poderá dizer que o BC não fez tudo para trazer a inflação de volta à meta.

*COLUNISTA DO BROADCAST

O ESTADO DE S. PAULO

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