Somente 6% dos entrevistados acham que a modalidade não funciona no país; 25% das empresas se posicionam contra a semana útil reduzida.
Por Marta Cavallini, g1
Pesquisa do portal de vagas Empregos.com.br mostra que 81% dos profissionais entrevistados são a favor de trabalhar quatro dias por semana, no chamado esquema 4 x 3, enquanto 13% ainda têm dúvidas sobre o sistema – e somente 6% acham que a modalidade não funciona no país.
Já as empresas parecem resistir à nova tendência. Apenas 4,9% das companhias que participaram da pesquisa são a favor da jornada reduzida. Outros 25% se opõem e 71,1% não têm um posicionamento definido sobre o tema.
Foram ouvidas 251 empresas e 2.552 profissionais cadastrados na base do portal Empregos.com.br entre os dias 1 e 10 de outubro.
Segundo os dados da pesquisa, 76% dos colaboradores trabalham presencialmente, 5,3% no formato híbrido e 4,6% em home office.
Já 82,5% exercem a jornada de trabalho de 40 horas semanais previstas na CLT, enquanto 15,6% possuem políticas de horários flexíveis e 1,9% realizam o “short-friday”, benefício que consiste em oferecer aos funcionários a possibilidade de sair mais cedo às sextas-feiras.
“O isolamento social estimulou a criação de diferentes formatos de trabalho. Todos podem ser bastante eficientes, a depender da cultura da empresa, do histórico da equipe e do tipo de trabalho a ser executado. São muitas as variáveis que influenciam no resultado final. O importante é encontrar o formato que melhor se adapta tanto para a empresa quanto para o colaborador”, afirma Tabata Silva, da Empregos.com.br.
Quando ‘pega’ no Brasil?
A semana de quatro dias, adotada por algumas empresas em países ao redor do mundo, tem alguns entraves para poder ser implantada no Brasil, apontam especialistas em mercado de trabalho.
Para especialistas, a legislação trabalhista e a questão da gestão e da produtividade do trabalhador brasileiro são fatores que pesam para que a semana de trabalho possa ser encurtada.
Para os especialistas, a questão da semana de quatro dias precisa ser mais discutida, e as empresas devem provar que isso funciona antes de virar uma tendência no mercado de trabalho.
Para isso, deveria haver uma quebra de paradigma, medindo o desempenho do profissional pelo resultado e não pelo número de horas trabalhadas. Mas esse processo pode estar sendo acelerado pelo home office ou trabalho híbrido, tendências que foram consolidadas com a pandemia.
Ainda segundo especialistas, o Brasil deverá passar por reduções da jornada diária antes de ser considerada uma queda na jornada semanal.
Do ponto de vista trabalhista, a regra geral é que a jornada máxima seja de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Mas isso não impede que as empresas possam reduzir a jornada de trabalho, já que a proibição está ligada ao excesso de horas trabalhadas. Porém, se envolver redução de salário, é preciso negociação com os sindicatos.
Se não houver redução, a empresa é livre para reduzir a jornada de trabalho – na prática, o salário-hora do empregado passaria a ser maior.
Saúde mental
Ainda de acordo com a pesquisa, das 251 empresas pesquisadas, 34,3% têm iniciativas para informar e prevenir transtornos mentais no ambiente de trabalho, e metade das companhias consultadas possuem canais para ouvir os colaboradores.
Um quarto das empresas afastou de um a cinco funcionários por adoecimento mental nos últimos 12 meses. A ansiedade é apontada como o fator que mais impacta a força de trabalho (41%), seguida pelo estresse (31,9%), depressão ou síndrome do pânico (26,7%) e burnout (9,2%).
“É fundamental que as empresas comecem a olhar e escutar quais são as dificuldades dos funcionários, pois a comunicação é a melhor ferramenta para auxiliar os colaboradores, só assim podemos assegurar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo daqui para frente.” finaliza a especialista.