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A difícil recuperação do mercado de trabalho

Apesar da recuperação da economia no primeiro trimestre, o que deve ser comprovado hoje com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do período pelo IBGE, o mercado de trabalho segue dando sinais negativos. O desemprego atingiu patamar recorde, com o setor informal abatido pela segunda onda da pandemia e pelas medidas de restrição à mobilidade, e com as empresas freando a expansão, inseguras em relação ao futuro. As contratações com carteira assinada concentram-se no setor público e na área de saúde. A perspectiva é que os números devem piorar ao longo do ano, à medida que a vacinação avançar e mais pessoas buscarem colocação.

Levantamento da Pnad Contínua do IBGE mostrou que o desemprego atingiu patamar recorde no primeiro trimestre, com 14, 8 milhões de trabalhadores em busca de uma vaga e 6 milhões que desistiram de procurar uma colocação. A taxa de desemprego chegou a 14,7%, a maior da série histórica, iniciada em 2012. No trimestre encerrado em dezembro, a taxa estava em 13,9%, o que significa que mais 880 mil pessoas passaram a procurar emprego nos três primeiros meses do ano.

Um ano antes, a taxa era de 12,2%. Nesse período, perderam o emprego formal ou informal 6,6 milhões de pessoas de um total de 92,3 milhões. O número de subutilizados na população também chegou a um recorde de 33,2 milhões de pessoas. O conceito inclui os desempregados, os que desistiram de procurar trabalho, mas aceitariam se encontrassem, e os que trabalham menos do que gostariam. Os subutilizados formam um contingente que aumentou em 5,6 milhões de pessoas em um ano, em comparação com os 27,6 milhões de março de 2020. Compõem esse grupo principalmente os informais, mulheres, negros e pardos.

Embora apresentem números positivos ao longo deste ano, os dados do Caged, que retratam o comportamento do mercado formal, sinaliza declínio de vagas. Depois de informar a criação de 261,4 mil novos contratos formais em janeiro e 398,2 mil em fevereiro, o Caged teve o registro de abertura de 177,3 postos de trabalho em março e de 120,9 mil em abril. O governo atribuiu a redução de abril ao impacto da segunda onda da covid-19, como disse o ministro da Economia Paulo Guedes, quando já se fala em terceira onda. Ele preferiu ver o saldo positivo acumulado no ano de 957,8 mil novas vagas com carteira assinada, em contraste com o fechamento de 763,2 mil empregos no mesmo período de 2020, que refletiu os primeiros impactos da pandemia. Sempre buscando um ângulo favorável, Guedes contabiliza a criação de 2,2 milhões de vagas formais desde julho do ano passado, superando o total de 1,2 milhão de empregos destruídos na primeira onda da pandemia.

Os números do Caged, no entanto, além de mostrar apenas o mercado formal de trabalho, apoiam sua recuperação no setor de serviços públicos e, compreensivelmente, na área de saúde. Mas a maior parte do emprego no país é informal, cuja realidade é mais fielmente captada pela Pnad do IBGE, apesar das dificuldades da pesquisa durante a pandemia. O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fernando Veloso, escreveu no blog do Ibre (17/5) que, diferentemente do que aconteceu em recessões anteriores, as ocupações informais foram as mais afetadas e diminuíram 12,6% em 2020, três vezes mais que as formais (4,2%). Os mais prejudicados foram os trabalhadores domésticos sem carteira assinada, empregados do setor privado e trabalhadores por conta própria sem CNPJ.

O governo apoia suas ações em programas de foco bem definido, com certa eficiência, mas que não chegam aos informais. Relançado em abril, o Benefício Emergencial para a Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) contribuiu para manter 2,9 milhões de vagas formais em abril, 235,9 mil a menos do que em março, segundo o Dataprev. O pesquisador Fernando Veloso aponta outras características da crise no mercado de trabalho que dificultam a recuperação: além de ter impactado mais o setor de serviços, ela atinge principalmente atividades de mão de obra de escolaridade baixa, cuja reação depende em boa parte da evolução da pandemia e da eventual terceira onda. A necessidade de novas restrições pode abortar a recuperação e até eliminar parte das raras vagas criadas. Há ainda o número elevado da mão de obra desperdiçada e de inativos, que pressionará o mercado à medida que a vacinação progredir.

VALOR ECONÔMICO

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