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Crise da covid-19 afeta mais o trabalho das mulheres na AL

A pandemia tirou 12 milhões de mulheres do mercado de trabalho na América Latina, em 2020. Dados atualizados mostram que o impacto da crise foi maior para as mulheres do que para os homens. Elas também enfrentam mais dificuldades para retornar à força de trabalho. Os números indicam um retrocesso de ao menos 15 anos no que diz respeito à inserção das mulheres no mercado de trabalho. A depender da dificuldade em se controlar a covid-19, o estrago pode ser ainda maior. Dados atualizados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que, no segundo trimestre de 2020, o número de mulheres empregadas caiu muito mais do que o de homens, tendência que foi revertida apenas no quarto trimestre. No ano, houve queda de 12% na taxa de ocupação das mulheres na região e 9% na dos homens. Em termos globais, a contração foi de 5% e 3,9%, respectivamente.

Isso significa que cerca de 12 milhões de mulheres perderam o emprego no ano passado, segundo relatório publicado neste mês pela organização. O documento acrescenta que a queda acentuada da participação das mulheres no mercado de trabalho indica um retrocesso de ao menos 15 anos. Dentre os países mais afetados estão Chile, Peru e Paraguai. “Na América Latina e no Caribe, o impacto mais intenso sobre as mulheres se deve, por um lado, à maior presença feminina em setores da economia fortemente afetados como hotelaria e restaurantes e trabalho doméstico”, diz Valeria Esquivel, coordenadora do grupo de Gênero no Trabalho da OIT. “Por outro lado, uma em cada duas mulheres da região está no mercado informal. Em setores com alta participação feminina, como o doméstico, a taxa de informalidade chega a 90%.” No setor de serviços em geral, 50% da força de trabalho é feminina. No de comércio, 26%. No de turismo, 61,5%. Quando se trata de trabalho doméstico remunerado, esse total ultrapassa 91%, de acordo com a Comissão Econômica para América Latina e Caribe das Nações Unidas (Cepal).

O mercado de trabalho doméstico remunerado, que empregava 13 milhões das mulheres da região antes da pandemia, foi fortemente atingido pela impossibilidade de ser realizado à distância. No segundo trimestre, a ocupação nessa área caiu 46,3% no Chile, 44% na Colômbia e 24,7% no Brasil. Além de as mulheres ocuparem vagas mais vulneráveis a medidas restritivas, um fator que contribui para a perda de emprego entre elas é a dificuldade de conciliar o trabalho com tarefas dentro de casa, em um contexto no qual educação e serviços de cuidado no lar também foram impactados. Segundo a Cepal, as mulheres da região gastam entre 22 horas e 42 horas semanais com tarefas domésticas – o triplo dos homens.

“A pandemia acentuou ainda mais isso, em uma região onde a divisão sexual do trabalho já era desigual. Hoje as mulheres estão mais sobrecarregadas com o trabalho de cuidado no lar do que os homens”, afirma Lucía Scuro, da divisão de Assuntos de Gênero, da Cepal. “Sem contar que muitas têm de assistir às crianças na educação remota, quando não idosos que demandam cuidados específicos.” Segundo dados do Laboratório do Trabalho do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), empregos formais e informais dominados por mulheres são os que tiveram maior queda e têm recuperação mais devagar na Bolívia, Chile, Colômbia, México, Peru e Paraguai. Na Bolívia e no Paraguai, o emprego entre os homens voltou ao nível pré-crise, mas entre as mulheres não.

“A crise da covid-19 está causando diversas outras crises adicionais e uma delas, sem dúvida, é a do emprego feminino, o que alguns especialistas estão chamando de ‘she-cession’”, afirma Morgan Doyle, representante do BID no Brasil. “Os números são significativos e refletem que as mulheres não apenas perderam seus empregos mais rapidamente do que os homens, como também estão recuperando seus postos de trabalho a um ritmo muito mais lento.” Doyle lembra que, do total de 31 milhões de empregos perdidos até agosto de 2020 por conta da pandemia na América Latina, mais de 16 milhões ainda não haviam sido recuperados. A região é a que mais sofreu com perdas de horas de trabalho – 16,2% em 2020, ante 8,8% em todo o mundo, segundo a OIT.

Isso suscita ainda mais preocupações para um cenário de queda da participação das mulheres no mercado de trabalho, anterior à crise. Segundo a OIT, em 2005 as mulheres representavam 50,3% da força de trabalho. Esse percentual caiu para 47,2% em 2019. Em todo o mundo, o trabalho de cuidado não remunerado é citado como a principal razão dada por mulheres em idade produtiva por estarem fora da força de trabalho. A Cepal estima que a queda da participação feminina no mercado de trabalho tenha sido em parte responsável por jogar mais 23 milhões de mulheres na pobreza na América Latina. Com isso, o total de mulheres pobres na região chegou a 118 milhões no fim de 2020. Antes da pandemia, o Fórum Econômico Mundial estimava que seriam necessários 59 anos para se alcançar igualdade de gênero no mercado de trabalho. Com a lenta recuperação da atividade na região e dificuldades para acelerar a vacinação contra a covid-19, isso deve demorar ainda mais.

VALOR ECONÔMICO

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