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Demissões a pedido crescem com busca por oportunidades e reposição da inflação

Levantamento do Ministério do Trabalho mostra que 33,8% dos cortes deste ano, até julho, foram de iniciativa do empregado

Por Edna Simão — De Brasília

Um número cada vez maior de trabalhadores com carteira assinada está pedindo demissão para buscar uma nova oportunidade de emprego no país. Esse comportamento é reflexo não só do impacto da pandemia no mercado de trabalho, aquecido, como também das dificuldades encontradas pelos funcionários em conseguir reajustes que garantam o poder de compra neste cenário de inflação mais alta.

Levantamento do Ministério do Trabalho e Previdência, feito a pedido do Valor, mostra que de janeiro a julho deste ano, 33,8% do total de demissões registradas pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram a pedido. Ou seja, do total de 11.993.657 demissões apuradas nos sete primeiros meses deste ano, 4.053.799 foram a pedido.

No mesmo período de 2021, conforme os dados, as demissões a pedido representavam 30% do total e, em 2020, a 19,9%. Em todo o ano passado, 31,178% das demissões foram a pedido.

O Ministério do Trabalho e Previdência explicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a participação dos desligamentos a pedido no total de demissões tem uma forte correlação com a presença de saldos positivos no Caged. “Sempre que o mercado de trabalho está aquecido aumenta a quantidade e a participação dos desligamentos a pedido, uma vez que os trabalhadores se deparam com melhores oportunidades profissionais”, informou o ministério.

Na avaliação do ministério, em 2020, muitos trabalhadores tiveram seu emprego impactado pela pandemia e “é possível que o reaquecimento do mercado tenha gerado também um processo de reorganização, à medida que trabalhadores que logo após a pandemia se empregaram nas vagas que estavam disponíveis tenham migrado para ocupação mais de acordo com seu perfil e desejo profissional”.

“O crescimento dos desligamentos a pedido é mais um dado que retrata a força do mercado de trabalho brasileiro, alinhado ao nível recorde do estoque de trabalhadores formais no Caged”, frisou.

Daniel Ferrer de Almeida, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), doutor em Direito do Trabalho pela USP, ponderou, no entanto, que as demissões a pedido estão concentradas em atividades em que os rendimentos são mais baixos e que há dificuldade de negociação de reajustes que compensem a inflação. Esses trabalhadores estariam migrando para o trabalho por conta própria.

Segundo o economista, considerando a ocupação, vendedor de comércio varejista liderou o ranking dos que pediram demissão, seguido por alimentador de linha de produção, faxineiro, auxiliar de escritório, operador de caixa, assistente administrativo, motorista de caminhão, operador de telemarketing (ativo e receptivo), reposição de mercadorias, e atendente de lanchonete. O ranking foi montado considerando dados do Caged referentes ao primeiro semestre.

“São ocupações precarizadas e com salários comprimidos que estão pedindo demissão”, destacou. “Ocupações com menores rendimentos e que sofrem com o arrocho salarial”, complementou Ferrer de Almeida.

No caso do setor de comércio, o assessor da área de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, acredita que funcionários do setor estejam querendo se tornar empreendedores, já que o turismo e os serviços estão evoluindo.

O pesquisador associado da FGV Ibre Ricardo Barboza reforçou que uma das hipóteses para o aumento dos pedidos de demissões está relacionada ao aquecimento que “parece” estar em curso no mercado de trabalho, com aumento das ocupações e redução da taxa de desemprego (mais forte do que o esperado pelos economistas), em movimento liderado pelo setor de serviços. “Quando o mercado aquece, novas vagas abrem e em parte elas são preenchidas por trabalhadores que antes já estavam ocupados e pediram para sair.”

Outra possível justificativa é que o mundo pós-pandemia gerou “certa” competição entre empregadores no tocante a quem oferece melhor adequação ao trabalho, incluindo flexibilidade de carga horária, trabalho híbrido e home office. Para o economista associado da FGV, quando isso acontece, a rotatividade aumenta pois trabalhadores trocam de emprego, refletindo em alta de pedidos de demissão. Além disso, o ganho de participação de aplicativos que funcionam como empregadores pode ter influenciado na ampliação dos desligamentos a pedido.

O diretor-executivo do Instituto de Longevidade MAG, Arnaldo Lima, apontou que, historicamente, o percentual de desligamentos a pedido representa cerca de 20% do total de desligamentos, valor bem abaixo registrado entre janeiro e julho desse ano. “Mais de 75% dos trabalhadores que efetuam desligamentos a pedido possuem pelo menos ensino médio, ou seja, são mais escolarizados. Em momentos de mercado de trabalho mais aquecidos, esses trabalhadores se tornam mais rotativos, pois acabam saindo do atual emprego em busca de salários mais elevados e melhores condições de emprego. Resumindo, eles escolhem onde querem trabalhar, em vez de serem escolhidos”, afirmou. Para o especialista em mercado de trabalho e ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly, o aumento do pedido de demissão é um movimento positivo. “Mercado positivo proporciona mudanças para melhor”, comentou.

Já a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, disse que o mercado de trabalho tem surpreendido e esse cenário mais favorável pode ter contribuído para o aumento dos pedidos de demissões pelos trabalhadores. “Ainda não conseguimos medir, mas está na linha das explicações também um mercado de trabalho mais dinâmico, dados os efeitos da reforma trabalhista de 2017. Empresas estão gastando menos com esses processos e isso pode ter efeito positivo em termos de contratação”, destacou.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/09/12/busca-de-oportunidade-eleva-demissao-a-pedido.ghtml

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