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Empresariado reclama de falta de reforma e polarização

O crescimento de 1,2% do PIB do primeiro trimestre divulgado pelo IBGE nesta terça-feira (1º) superou expectativas, mas não foi suficiente para afastar a preocupação de empresários e presidentes de grandes companhias com o ritmo da vacinação, o desemprego e a inflação. O recado que vem do empresariado diante do cenário é de frustração com as reformas administrativa e tributária, além da impaciência com a perda de foco para a campanha presidencial de 2022 e a polarização.

Para Gabriel Galípolo, presidente do banco Fator, o novo resultado do PIB tem relação com as expectativas da recuperação econômica internacional, como se pode ver pelo anêmico desempenho do consumo das famílias.

Ele discorda da visão do Ministério da Economia de que a retirada dos estímulos governamentais temporários não tenha tido impactos na atividade no primeiro trimestre. “Nessa racionalidade, se não tivesse programa de auxílio de renda, o PIB teria caído ainda mais em 2020, gerando uma base de comparação ainda mais favorável para o PIB de 2021”, diz Galípolo.

O executivo lamenta que parte do fôlego atual, em forma de recuperação de estoques que ele atribui ao que ficou represado no início da pandemia, não seja absorvido pelo Brasil.

“Tem correlação entre reposição de estoque, investimento e aumento das importações. Quando se faz um investimento, seja para repor maquinário, estoque etc pelo que ficou represado na pandemia, como o Brasil foi perdendo a capacidade produtiva, isso se reverte em aumento das importações. Vaza para fora. Por isso não vemos crescimento no emprego”, diz.

Na avaliação de Laércio Cosentino, presidente do conselho de administração da Totvs, o crescimento do PIB ocorreu a despeito da falta de reformas e da antecipação da campanha eleitoral de 2022.

“Todos nós deveríamos cobrar uma trégua do posicionamento político atual e uma agenda mínima necessária até 31 de dezembro deste ano para vencer a pandemia, recolocar a economia no rumo e só depois voltar às diferenças de opinião”, afirma Cosentino.

O presidente da Obramax, atacarejo para material de construção do grupo Adeo, Michael Reins, alerta que inflação dos insumos e das commodities, desvalorização do real e juros podem atrapalhar a evolução do mercado.

“Eu sou bem cauteloso quanto ao crescimento econômico, porque vejo alguns sinais negativos na construção civil, que é um elemento fundamental do crescimento do PIB”, diz Reins. ​​

Sergio Leite, presidente da Usiminas, diz que o número divulgado pelo IBGE reforça a confiança da empresa no mercado nacional, que no primeiro trimestre respondeu por mais de 90% das vendas da companhia, “ainda que o país necessite de um crescimento mais expressivo, e tenha potencial para isso”.

​​Helton Freitas, diretor-presidente da Seguros Unimed, diz que as reformas tributária e administrativa poderiam ajudar na retomada de um crescimento sustentável, mas seguem sem perspectiva concreta de aprovação.

“É sempre salutar uma notícia sinalizando melhora. Mesmo que sombreado por condições ainda adversas, como o alto desemprego e o ritmo lento de recuperação em setores vitais da economia, a melhora do PIB acima do esperado é relevante diante do atual cenário. Entretanto, temos que estar atentos a pautas prioritárias, como o ritmo da vacinação e o controle da inflação. Se não for feito, pode prejudicar setores como indústria e serviços, que empregam milhões de brasileiros, e cuja recuperação ficará ainda mais distante”, diz Freitas.

FOLHA DE S. PAULO

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