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INFLAÇÃO E JUROS PODEM PREJUDICAR O NATAL

Valor Econômico – 28/09/2021 –

Não é de hoje que o Natal no varejo tem sido de desempenho instável, e em 2021, o cenário volta a ser de visibilidade baixa e projeções cautelosas. Neste ano, se o avanço da vacinação acelera o tráfego nas lojas, a falta de insumos para produção e a escalada da inflação e dos juros pesam contra a expansão do consumo.

A princípio, pelo quadro atual, essa piora da conjuntura econômica tem levado a projeções de alta de um dígito baixo nas vendas de bens duráveis em dezembro sobre 2020, dizem consultorias e redes varejistas. Essas contas ficam mais claras agora porque, após setembro, pedidos de compras firmes passam a ser fechados.

Além do ambiente, pesa de forma contrária a forte base de comparação do ano passado, especificamente nos eletrônicos e eletrodomésticos, que se favoreceram da maior demanda por itens para casa e das parcelas finais de um “coronavoucher” mais gordo em 2020. O que pode ajudar a trazer um fôlego novo neste fim de ano é a chegada do Auxílio Brasil e eventual aumento na contratação de temporários, dizem associações.

Nesse cenário de juros acelerando e custo do capital mais alto, duas varejistas de eletrônicos ouvidas pelo Valor estudam o repasse da alta da Selic às taxas dos crediários entre o fim de ano e início de 2022. São índices que giram entre 4,5% e 5,5% ao mês hoje nas grandes redes. Segundo a Anefac, associação dos executivos de finanças, que faz relatórios mensais, esse movimento de alta nas taxas já começou: os juros do carnê estão subindo ao longo deste ano, após um 2020 de taxas quase estáveis.

“O ritmo [de pedidos de mercadorias à indústria] para o Natal está cerca de 5% superior ao ano de 2020, e pouco mais de 3% acima de 2019”, diz o superintendente de uma rede de móveis e eletroeletrônicos com cerca de 100 lojas e operação on-line. Para a Black Friday os pedidos dessa rede aos fabricantes estão 4% a 5% acima de 2020, em volume.

As vendas neste ano no varejo, em valor, chegaram a mostrar aumento de até dois dígitos, mas é um efeito, em grande parte, da escalada de preços de eletrônicos – em 12 meses, preços das TVs subiram cerca de 30%, segundo dados do IBGE. Em 2020, as vendas em valor na Black Friday avançaram entre 25% e 30%, a depender da consultoria, por conta dos reajustes nas tabelas.

Para a área econômica da Confederação Nacional de Comércio e Turismo (CNC), a projeção é de alta de 3,8% nas vendas (em volume) no Natal frente a 2020, considerando produtos em geral, e não apenas bens duráveis. Caso atinja essa expansão, o comércio deve recuperar a perda do ano da pandemia, mas isso tem explicação pelo próprio efeito estatístico, com a base fraca de comparação de 2020, lembra a entidade.

Esses dados são projetados pela CNC considerando a pesquisa mensal do comércio do IBGE. Para Fábio Bentes, economista da entidade, uma alta de 3,8% no Natal “não é um desempenho ruim olhando o passado recente com alguns altos e baixos, mas é preciso lembrar que os anos anteriores não foram espetaculares”, diz. “E a comparação de 2020 é afetada pelo comportamento do consumidor, que praticamente não teve período de festas no ano passado.”

Bentes lembra que um indicador positivo nesse cenário é a redução do “gap” entre a curva de circulação de consumidores em praças centrais do comércio no país e o ritmo de vendas. Esse índice de circulação é acompanhado pela ferramenta Google Mobility. “De maio para junho, esse ‘gap’ entre as duas curvas vem diminuindo mais, apesar de existir, em agosto, um movimento de clientes 12% abaixo do nível pré-pandemia”, afirma.

Para uma das maiores cadeias de eletromóveis do Centro-Oeste, os pedidos à indústria para novembro e dezembro (em volume) estão entre 3,5% e 5,5% acima de 2020 – quando a demanda acelerou – e 7% a 8% superiores a 2019. Para produtos “estratégicos”, como certos modelos de celulares – com risco de faltar pelos problemas de gargalos na cadeia (efeito da escassez de insumos no mundo) – foram colocados pedidos um pouco maiores.

A cadeia está comprando porque registra estoques “no volume morto”, na expressão de um diretor. “Tivemos uma boa demanda em julho e em setembro, e não tão boa em agosto, e estamos reforçando as compras pela maior saída nos meses melhores”, diz.

Na última década, há anos de queda nas vendas de dezembro, seguidos de outros anos com alta – e nem mesmo a Black Friday, ao se descontar a inflação, tem saído ilesa dessas oscilações.

Para Ubirajara Pasquotto, CEO da Cybelar, pode haver um efeito positivo caso o Auxílio Brasil, de R$ 300 mensais, comece a ser pago após o fim do “coronavoucher” em outubro. “Se der tempo de ser pago, o novo recurso deve mudar as perspectivas do setor. Apesar da inflação mais alta e da conta de energia, isso pode ser o fôlego que as redes precisam”.

Como nos outros anos, a Black Friday volta a ser antecipada, começando já no princípio de novembro (oficialmente ocorre na última sexta-feira do mês), e deve emendar com dezembro, para se criar ações comerciais que gerem um ambiente mais positivo. Neste momento, as ações têm focado em parcelamentos em até 10 ou 12 vezes no cartão, e até 24 vezes, em média, nos carnês – que cobram taxas de juros mensais.

Uma cadeia de móveis estuda elevar sua taxa de juros mensal, de 4,7%, a um índice ainda não definido. “Vamos decidir isso em conselho nesta semana, depois dessas subidas na Selic. Mas, se os concorrentes segurarem mais tempo, pode ser que a gente eleve parcelamento do carnê para os juros caberem no bolso”, diz o diretor financeiro de uma rede com 24 lojas.

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