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OIT prevê 9,9 milhões de desempregados no Brasil

O crescimento do emprego mundial esperado agora é de apenas 1,0% neste ano, menos da metade do nível de 2022
Valor — Genebra

Enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que um terço da economia mundial poderá mergulhar em recessão neste ano, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta forte degradação no mercado de trabalho globalmente. Tudo isso na esteira de novas tensões geopolíticas, invasão da Ucrânia, disrupções nas cadeias de abastecimento, inflação alta e aumentos de juros que continuam em várias economias.

O crescimento do emprego mundial esperado agora é de apenas 1,0% neste ano, menos da metade do nível de 2022. O desemprego global deverá aumentar cerca de três milhões, para atingir 208 milhões de pessoas, correspondendo a uma taxa mundial de 5,8%. A cifra só não é maior porque, na verdade, falta é mão-de-obra em vários países desenvolvidos.

A deterioração do mercado de trabalho é particularmente forte na América Latina. O volume de empregos cresceu 6,4% em 2021 e 4,9% em 2022, mas desacelera em 2023 com taxa de apenas 1,0%. Será suficiente basicamente para compensar a expansão da população em idade de trabalhar. O número de desempregados na região deve ficar em torno de 22 milhões neste ano.

No Brasil, a maior economia da região, o desemprego chegou a atingir 14,1 milhões de pessoas em 2021, mas em 2022 fechou em trajetória positiva até em razão de uma retração da força de trabalho. Mas o que a OIT diz esperar é que na região será difícil a manutenção de recentes ganhos no emprego formal.

Sua estimativa é de que no Brasil o desemprego cairá de 10,3 milhões em 2022 para 9,9 milhões em 2023, o que representa taxa de desemprego de 9,1%. Isso quando o crescimento da economia brasileira diminuindo de 3% no ano passado para 0,8% neste ano, pelas novas projeções do Banco Mundial. A expectativa é de que o desemprego continue atingindo 9,9 milhões de pessoas ao final de 2024, enquanto 99,7 milhões estarão empregadas.

A inquietação evidente não é só com a quantidade, mas com a qualidade do emprego. No cenário atual, mais trabalhadores vão ser empurrados a aceitar empregos de menor qualidade, mal remunerados, precários e sem proteção social. O emprego informal, que vinha caindo, tende a aumentar de novo bastante em diferentes economias. Globalmente, cerca de dois bilhões de trabalhadores ocupavam um emprego informal em 2022.

A OIT chama atenção com razão para o conceito de deficit global de empregos, bem mais realista. Essa medida leva em conta tanto as pessoas desempregadas, como as que não buscam mais ativamente uma vaga de trabalho, desencorajadas ou porque tem responsabilidades familiares, por exemplo. O deficit mundial de emprego chega assim a 473 milhões em 2022, ou 33 milhões a mais do que em 2019, antes da covid-19.

Nada menos de 214 milhões de pessoas trabalham, mas vivem na extrema pobreza, com renda inferior a 1,9 dolar por dia em termos de paridade de poder de compra.

Além disso, a desaceleração do crescimento da produtividade nos países desenvolvidos se propagou às principais economias emergentes. A estagnação começou após a grande crise financeira global de 2009, como ilustrado no caso da China e India. Embora a produtividade do trabalho na China ainda seja bem mais alta do que a dos países do G7 (as maiores economias industrializadas), desacelerou nos últimos tempos em ritmo maior.

A constatação é de que o crescimento na produtividade entre 1990 e 2010 não ocorreu em todos os emergentes. A OIT dá o exemplo do Brasil, que seguiu um caminho de queda, com uma alta de produtividade apenas temporária no período próximo da crise global de 2009.

https://valor.globo.com/opiniao/assis-moreira/coluna/oit-preve-99-milhoes-de-desempregados-no-brasil.ghtml

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