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PIB cresce 1,2% no 1º trimestre, mesmo com piora da pandemia

A economia brasileira começou 2021 em crescimento, confirmando a melhora de perspectivas para o ano como um todo e aumentando as chances de as perdas causadas pela covid-19 serem recuperadas até dezembro. O Produto Interno Bruto (PIB, valor de tudo o que é produzido na economia em determinado período) cresceu 1,2% no primeiro trimestre, na comparação com os últimos três meses do ano passado, informou nesta terça-feira, 1.º, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o terceiro resultado positivo após o tombo do segundo trimestre de 2020.

Com esse resultado, o PIB brasileiro voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia. Apesar da melhora, o PIB ainda está 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do País, alcançado no primeiro trimestre de 2014.

Entre as atividades da economia, a agropecuária teve o melhor desempenho, com alta de 5,7% de janeiro a março, enquanto a indústria avançou 0,7% e serviços, 0,4%. O consumo das famílias recuou 0,1% no primeiro trimestre o e o do governo caiu 0,8%.

No início deste ano, com o recrudescimento da pandemia e sem o auxílio emergencial pago pelo governo federal para ajudar as famílias mais pobres, as projeções chegaram a apontar para uma retração. Mesmo assim, a economia acabou demonstrando mais força do que o inicialmente esperado. Mês a mês, os dados setoriais vieram acima do que o esperado, desencadeando uma série de revisões para cima nas estimativas, especialmente mês passado, quando os últimos números de março foram divulgados.

Desde então, economistas têm citado uma série de motivos para o desempenho mais forte. Houve um menor isolamento social, na comparação com o início da pandemia – seja porque as regras de restrição foram mais brandas seja porque foram menos seguidas -, os juros estão historicamente baixos – mesmo após as altas recentes anunciadas pelo Banco Central (BC) -, há efeitos defasados de estímulos do ano passado e a alta nas cotações das commodities impulsiona as atividades exportadoras, como a agropecuária, a mineração, a extração de petróleo e a produção de celulose.

Com isso, o PIB avançou 1% sobre o primeiro trimestre de 2020, quando foram registrados os primeiros impactos da pandemia na economia. Nessa base de comparação, foi a primeira alta desde o quarto trimestre de 2019, ou seja, desde que a crise causada pela covid-19 se instalou no mundo.

Antes da divulgação dos dados pelo IBGE, pesquisa do Projeções Broadcast apontava para um crescimento econômico de 4,2% este ano – em abril, pesquisa semelhante apontava para 3,2%. Como a alta de 1,2% no primeiro trimestre, veio acima do apontado na pesquisa da última sexta-feira do Projeções Broadcast, de aumento de 0,7%, a estimativa para o crescimento de 2021 poderá ser revisada para cima.

O banco Barclays, por exemplo, revisou para 4,3% sua projeção de crescimento econômico para este ano, ante 3,2% anteriormente. Mesmo assim, o economista para o Brasil do Barclays, Roberto Secemski, não vê muito espaço para continuar nesse ritmo. A estimava para 2022 é de 1,9%.

“Estamos repondo as perdas de 2020. No último trimestre de 2021, voltaríamos ao patamar do PIB pré-pandemia, mas, na tendência de médio prazo, não vejo por que ser melhor do que antes. Não é o novo normal crescer 4,3%”, disse Secemski, para quem a pandemia segue como o maior risco para a atividade este ano.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, ponderou que a atividade econômica surpreendeu à custa de uma maior circulação das pessoas, o que aumenta o risco de uma terceira onda da pandemia. Em março, foram 66,9 mil mortos por covid-19 no País, número que saltou para 82,4 mil em abril. Desde o início da pandemia, até a segunda-feira, 31, o total de mortos soma 463 mil.

Por causa do menor isolamento social, Vale está pessimista com o desempenho do PIB no segundo trimestre, especialmente em junho, quando “é muito provável que tenhamos uma nova fase emergencial, com a economia em ritmo semelhante a março e abril”.

“A vacinação está muito atrasada e as autoridades não conseguem segurar as pessoas em casa, até porque o auxílio emergencial não é suficiente”, afirmou o economista, explicando que, por causa das incertezas sobre os rumos da pandemia, sua projeção de crescimento para 2021 segue em 3,2%.

Por outro lado, alguns economistas têm destacado que o isolamento social, mesmo que abaixo do necessário para conter a doença, pode estar atrapalhando menos a economia, o que pode ter acontecido na atividade econômica do primeiro trimestre.

No início da pandemia, as restrições ao contato levaram a uma paralisação inédita da produção, das vendas e dos serviços, derrubando a atividade econômica. Com o passar dos meses, o efeito da menor mobilidade sobre os indicadores econômicos caiu, diz um relatório da LCA Consultores, sugerindo a “hipótese” de que, “com o passar do tempo, as economias se adaptaram à pandemia”, com “uso intensivo de tecnologia, sistemas híbridos (presencial e virtual) de trabalho e ampliação do e-commerce”.

Pela ótica da demanda, na falta do auxílio emergencial, o consumo das famílias encolheu 0,1% sobre o quarto trimestre de 2020 e caiu 1,7% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado.

Além da interrupção da transferência de renda – que só seria retomada em abril, com valor mensal abaixo do ano passado -, o consumo teve pouco impulso da renda do trabalho no início do ano. A taxa de desemprego no País alcançou 15,1% em março, segundo cálculos do pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE – no primeiro trimestre, incluindo janeiro e fevereiro, a taxa ficou em 14,7%.

Outro estudo de Hecksher sugere que os países onde houve mais mortes pela covid-19 foram também os que perderam mais postos de trabalho na crise. Os dados mostram que, em 2020, o Brasil registrou proporcionalmente mais mortes pela doença do que 95% dos países – considerando 178 nações, com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ao mesmo tempo, o nível de ocupação (proporção de pessoas em idade de trabalhar que estão efetivamente trabalhando) no Brasil teve uma queda mais intensa do que 84,1% dos países – num grupo com 63, com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

“Tem gente que vai ficar surpresa, porque esperava que, talvez, deixando morrer um pouquinho mais, conseguiríamos salvar um pouquinho mais de emprego, mas não é o que parece que está acontecendo em nenhum lugar do mundo. Onde teve mais morte está havendo mais queda de emprego”, disse Hecksher.

Ainda na ótica da demanda do PIB, os investimentos, medidos pela formação bruta da capital fixo (FBCF), avançaram 4,6% sobre os três últimos meses do ano passado e saltaram 17% na comparação com o primeiro trimestre de 2020.

Com um menor isolamento social, o PIB de serviços, componente pela ótica da oferta que vinha apresentando recuperação mais lenta do que os demais no segundo semestre do ano passado, avançou 0,4% no primeiro trimestre, na comparação com o período imediatamente anterior.

Só que a desorganização da economia causada pela pandemia se mantém. Serviços presenciais – como hotéis, bares, restaurantes, salões de beleza e academias de ginástica – seguem com recuperação acumulada mais tímida, enquanto serviços financeiros e de alta tecnologia, além da produção de bens, mantêm a trajetória positiva.

O PIB da indústria registrou queda de 0,7%, após dois avanços seguidos no segundo semestre de 2020. Para Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores, o desempenho da indústria também ajuda a explicar o ritmo de crescimento acima do inicialmente esperado. Isso porque, conforme o economista, a produção industrial – que, ainda no ano passado, superou o nível anterior à crise – é puxada pela recomposição de estoques.

Nos primeiros meses de pandemia, os estoques foram a níveis historicamente baixos, porque, por um lado, as fábricas pararam como nunca haviam feito antes, e, por outro, famílias e empresas correram para estocar bens, com receios de escassez. Na segunda metade de 2020, quando a maioria dos países reabriu parte das atividades, muitas fábricas retomaram a produção a pleno vapor, para recompor os estoques baixos. Ao mesmo tempo, o consumo se recuperou mais rapidamente do que se esperava e foi direcionado para os bens, pois as restrições aos gastos com serviços continuaram.

“Para recompor os estoques, a produção tem que crescer acima da demanda. Só que a demanda não ficou parada, cresceu (no segundo semestre). A indústria ‘bombou’ no mundo todo, mas ainda não foi suficiente para elevar estoques para níveis adequados”, disse Borges.

Ainda na ótica da oferta, a agropecuária cresceu 5,7% ante o último trimestre do ano passado, diante das perspectivas de mais uma safra recorde de grãos, com exportações em alta. São as atividades que saíram ganhando na retomada, como exportadores do agronegócio e da mineração, que têm puxado também os investimentos.

Destacando o caráter ainda desigual, entre os setores, da retomada da economia, Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, lembra de uma ameaça ao crescimento que entrou nos radares na última semana: a crise hídrica, que, pela falta de chuvas, levou os reservatórios das usinas de geração hidrelétrica a níveis históricos de baixa e ameaça até mesmo a produção agrícola. Por isso, Lacerda segue conservador em suas projeções e mantém a estimativa de um avanço de 3,0% no PIB de 2021.

O risco de restrição no fornecimento de eletricidade não está ainda no radar dos empresários, que vem relatando aumento da confiança, em linha com uma atividade econômica melhor do que o previsto inicialmente. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) subiu 7,9 pontos em maio ante abril, para 97,7 pontos, maior patamar desde março de 2014, antes da recessão que se estendeu até 2016.

“A impressão que dá é que, quando passou o pior momento da segunda onda da pandemia, a demanda voltou e deu uma lufada de otimismo”, avaliou Aloisio Campelo Júnior, superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

O ESTADO DE S. PAULO

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